A Eletroconvulsivoterapia
No âmbito do ensino clínico de saúde mental e psiquiatria, integrado no 4º ano do CLE, a decorrer no serviço do internamento C3 do hospital Magalhães Lemos, sob orientação da professora Regina Pires, foi-me proposta a elaboração de uma reflexão crítico-reflexiva sobre a visita ao serviço de electroconvulsivoterapia.
No dia 14 de Janeiro de 2014, foi-me dada a oportunidade de acompanhar sete sessões de electroconvulsivoterapia no Hospital Magalhães Lemos, com o objetivo de conhecer as dinâmicas deste serviço e também os seus objetivos.
A electroconvulsivoterapia (ECT), também chamada de eletrochoque, é uma técnica terapêutica que consiste na aplicação de um choque, ou seja, de corrente elétrica através do cérebro do doente, induzindo uma convulsão epilepforme generalizada. Esta terapia pode ser realizada de duas firmas: bilateral e unilateral. A diferença entre os dois tipos prende-se com a forma de colocar os elétrodos. Na ECT bilateral, a corrente elétrica atravessa os dois hemisférios cerebrais e é a mais utilizada uma vez que, apresenta uma maior taxa de eficácia e menores efeitos colaterais. Na ECT unilateral apenas é estimulado o hemisfério dominante. (Rodrigues, 2008)
Atualmente a ECT é utilizada no tratamento de perturbações do humor, esquizofrenia e é considerada a terapêutica mais eficaz para o tratamento de depressões major, apresentando resultados superiores aqueles que são alcançados com os antidepressivos. Não são conhecidas contraindicações absolutas para esta terapêutica, sendo os seus efeitos secundários devidos à indução anestésica, presente em muitos outros procedimentos para além da ECT. No entanto, o estigma em relação a esta terapêutica continua bem presente na sociedade, causando desconfiança e medo nos doentes e familiares. Inicialmente a ECT era realizada sem o recurso a anestesia, o que podia conduzir a lesões como fraturas da coluna mas, hoje em dia, a ECT é realizada sob a anestesia geral com recurso a relaxantes musculares. (Rodrigues, 2008)
Na visita que fiz ao serviço de electroconvulsivoterapia tive a oportunidade de assistir a sete sessões de ECT, duas das quais realizadas em doentes do serviço C3.
Para realizar a ECT o doente necessita de estar em jejum. De inicio as enfermeiras solicitam aos doentes que se deitem nas respetivas camas e realizam a monitorização dos sinais vitais criação de acessos endovenosos (EV). Após esta preparação, reduzem os estímulos sensoriais fechado as janelas e cortinas da sala para que os doentes relaxem o mais possível. Os doentes são levados um a um para a sala onde será realizada a ECT. Além do aparelho dos eletrochoques, encontra-se na sala outro aparelho que realiza o registo do electroencefalograma (EEG) em simultâneo com a ECT, o que permite avaliar a qualidade da resposta convulsiva.
A ECT começa então com a anestesia realizada com recurso à administração de um anestésico de curta duração como o etomidato, tiopental ou propofol. Depois de estar inconsciente, são colocados os elétrodos na cabeça do doente para a transmissão da corrente elétrica. Após o choque observaram-se movimentos convulsivos. No final da convulsão o doente é posicionado em posição lateral de segurança e conduzido para a unidade de recobro.
Tal como referi atrás, duas das ECT’s que assisti eram de doentes do serviço C3. Uma das doentes ia realizar a quinta sessão. Antes de iniciar esta terapêutica, encontrava-se com o humor depressivo e com alteração do processo de pensamento por delírio de ruína e persecutório. Após quatro sessões de ECT´s, a doente apresenta o humor tendencialmente eutímico e já não é percecionada alteração do processo de pensamento embora apresente, por vezes, comportamento sugestivo disso. Ao acompanhar esta doente deste o inicio até aqui no serviço, apercebi-me dos reais benefícios terapêuticos que a ECT pode trazer para od doentes psiquiátricos.
Enquanto estudante, considero que a oportunidade de assistir às sessões de electroconvulsivoterapia foi muito enriquecedora da minha aprendizagem, na medida em que me permitiu esclarecer dúvidas e adquirir conhecimentos sobre esta técnica, visualizar os seus efeitos terapêuticos e perceber a importância que pode ter para o sucesso do tratamento e reabilitação da pessoa. Ao mesmo tempo, também serviu para desmistificar a ideia pré-concebida, que eu própria tinha, do que era a electroconvusivoterapia.