A Reabilitação Psicosocial
No âmbito do ensino clínico de saúde mental e psiquiatria, integrado no 4º ano do CLE, a decorrer no serviço do internamento C3 do hospital Magalhães Lemos, sob orientação da professora Regina Pires, foi elaborada esta reflexão crítico-reflexiva sobre a visita ao serviço de reabilitação psicossocial.
No dia 19 de Janeiro de 2014, foi dada a oportunidade ao meu grupo de estágio de visitar o serviço de reabilitação psicossocial do Hospital de Magalhães Lemos, com o objetivo de conhecer as dinâmicas deste serviço e também os seus objetivos.
De acordo com a OMS (2001), a reabilitação psicossocial é um processo que afere aos indivíduos que estão debilitados, incapacitados ou deficientes, devido à perturbação mental, a oportunidade de atingir o seu potencial de funcionamento independente da comunidade.
Com a reabilitação psicossocial pretende-se ajudar o doente a elaborar rotinas para o dia-a-dia, que permitam a sua emancipação e a melhoria das suas competências individuais, criando um sistema de apoio de longa duração. Preconiza-se, também, que com as atividades de reabilitação se diminua o estigma face ao doente mental.
A reabilitação psicossocial do Hospital de Magalhães Lemos trabalha a reabilitação seguindo três conceitos fundamentais: recovery; empowrment; e, readiness. Segundo o que nos foi explicado pelo enfermeiro chefe do serviço, os referidos conceitos dizem respeito a:
· Recovery: é a recuperação do doente, realizada através da aprendizagem de novas capacidades e competências essenciais para que este viva em comunidade;
· Empowrment: é o empoderamento da pessoa, que pretende mostrar ao doente que este tem poder para tomar decisões sobre a sua própria vida como por exemplo a ação simples de decidir o que quer vestir;
· Readiness: representa o trabalhar de porta aberta, ou seja, ao contrário dos outros serviços, a porta está sempre aberta uma vez que participar das atividades é algo que parte da vontade da pessoa, caso contrário é livre de ir embora.
O serviço de reabilitação é composto por 14 ateliers distintos que vão desde a culinária, cerâmica, reprografia, trabalhos manuais, etc.. além destes, apresenta uma vertente mais dedicada ao desporto com ginástica e aulas de natação. Cada área é coordenada por um profissional qualificado nessa mesma área.
Nos ateliers referidos anteriormente, os doentes criam artigos de acordo com a época do ano em que se encontram como por exemplo o Natal. Estes artigos integram feiras organizadas pelo hospital, sendo que o lucro das vendas reverte a favor da instituição. Algumas das peças também são guardadas para exposição ou mesmo para oferecer a personalidades de relevo. Outras podem ser levadas pelos doentes, caso tenham um grande significado pessoal.
Os doentes admitidos neste serviço, cerca de 250 doentes, não são pessoas com simples patologias mentais mas sim pessoas com uma situação psiquiátrica grave, capaz de lhes conferir incapacidade. Afinal, se não houvesse incapacidade não havia necessidade de reabilitação. Um doente que padece de uma condição mental menor, como uma depressão (simples), normalmente recupera o ritmo do seu dia-a-dia sem necessitar de reabilitação.
Os doentes podem chegar ao serviço de reabilitação por três vias: através do hospital, através do centro de dia ou por iniciativa própria para não estarem sozinhos em casa. foi-nos explicados que há doentes que frequentam o serviço só para criarem uma rotina e não estarem fechados e sozinhos em casa.
Neste serviço, trabalha uma equipa multidisciplinar constituída por quatro enfermeiros, um assistente social, um psicólogo e um terapeuta ocupacional. Não estão presentes médicos no serviço. Se houver necessidade é chamado ao serviço o médico que o doente tem atribuído na consulta externa ou é designado outro profissional caso o primeiro esteja indisponível.
Quando um doente é encaminhado para o serviço de reabilitação, primeiro é realizada uma avaliação inicial do doente onde são debatidos aspetos como as necessidades do doente, as suas aptidões, os objetivos terapêuticos que se pretendem atingir e os objetivos do doente. Após a avaliação, é estabelecido o horário do doente com as atividades que irá frequentar, sendo que estas são sempre escolhidas pelo doente. Os enfermeiros apenas podem sugerir atividades mas nunca impor, caso contrário o doente não comparece às mesmas. É também atribuído um par terapêutico que contempla um enfermeiro responsável pelo acompanhamento do seu percurso.
Em suma, considero que a visita a este serviço foi muito produtiva no sentido em que nos alertou para a importância deste serviço na reintegração da pessoa na sociedade, uma vez que o doente pode ter alta do ponto de vista clínico mas ao mesmo tempo não estar preparado para desempenhar as suas atividades diárias, necessitando de apoio para construir ou reconstruir as suas rotinas.